Somente em 2023, foram 71 mil denúncias, número 77% maior do que em 2022. O relatório da ONG Safernet fala da urgência do enfrentamento a esse tipo de violência, que deve envolver os pais.
No Brasil, as denúncias de abuso sexual infantil na internet aumentaram 80% em 2023.
Um homem ouvido pelo Jornal Nacional, que prefere não ser identificado, é pai de uma adolescente que, aos 13 anos, viu falsos nudes dela e de outras 19 amigas serem expostos na internet. Elas foram vítimas de quatro colegas em uma escola do Recife que usaram a inteligência artificial para modificar as fotos das meninas.
“Isso aí tem que ser divulgado, porque isso aí pode prejudicar a cabeça de uma criança, de um adolescente. É um absurdo”, diz ele.
Só em 2023, mais de 71 mil denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil chegaram à Central Nacional de Crimes Cibernéticos da Safernet, ONG que atua em defesa dos direitos humanos. O número é 77% do que em 2022.
Além de imagens produzidas pelos próprios adolescentes e vendidas nas redes sociais, há uma outra razão para o aumento.
“A utilização de aplicativos de inteligência artificial generativa, em que você pega uma imagem de uma adolescente, por exemplo, e esses aplicativos conseguem despir e criar imagens ultrarrealistas dessas pessoas em cenas de nudez”, explica Thiago Tavares, presidente da Safernet Brasil.
O relatório divulgado nesta terça-feira (6) fala da urgência do enfrentamento a esse tipo de violência, que deve envolver os pais.
“A maioria das redes sociais não são desenvolvidas, não são criadas para crianças. É quase como um abandono digital – já se fala em abandono digital – o ato de entregar um celular ou um tablet para uma criança de 5, 6 anos sem supervisão”, acrescenta Thiago.
As denúncias que chegam à Central Nacional de Crimes Cibernéticos não envolvem apenas imagens de abuso e exploração sexual infantil, mas também outras violações de direitos humanos na internet. E todas essas denúncias juntas somaram o maior número já registrado desde 2006, quando os dados começaram a ser computados.
Ainda de acordo com a pesquisa, houve crescimento de denúncias de xenofobia e de intolerância religiosa. Não é de hoje que o historiador Derê Gomes vira alvo de ataques na redes sociais ao publicar fotos com roupas dos cultos do candomblé.
“A gente precisaria de algum tipo de regulamentação que fizesse com que essas pessoas pudessem ser impedidas de criar novos perfis para continuar destilando esse tipo de ódio nas redes sociais”, defende ele.
Fonte: G1